terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um ano de saudade

Eu com a Bisa e o Biso na  minha formatura em 2009


Neste sábado vai fazer um ano que a minha Bisavó me deixou.
Deixou não só a mim, mas toda a família desamparada.
Os invernos sempre eram uma batalha complicada para os já cansados pulmões da Bisa querida que já tinha 91 anos de idade. No inverno do ano passado eles não aguentaram. Depois de ser encontrada praticamente agonizando sem ar pelo seu companheiro de mais de 70 anos de casamento, meu querido Biso, ela foi internada as pressas e ia passar por uma cirurgia, para finalmente poder dormir e respirar melhor em dias mais frios.
Me lembro como se fosse ontem da última vez que a vi no hospital.
Fui visitá-la acompanhada do Raoni, meu pai e meu irmão maior, o Caíque.
Como apressada que sempre fui, estava na frente do grupo e abri a porta do quarto. Encontrei ela com pantufas bem quentinhas, um pijama azul-claro que parecia ser muito aconchegante, sentada em uma mesinha no canto do quarto comendo pão com schimia (um de seus pratos preferidos eu acho).
Ela abriu um enorme sorriso quando nos viu e logo nos abraçou e beijou. Perguntou se estava tudo bem já que andava fazendo muito frio, e sendo que ela é quem estava internada.
Vi ela muito disposta e feliz, fazendo planos de almoços com o restante da família quando voltasse pra casa.
E eu também saí de lá fazendo planos.
Tinha certeza que dentro de algumas semana ela deixaria o hospital.
Me enganei.
Na manhã do dia 6 de agosto, uma sexta-feira, me vesti (lembro exatamente da roupa que usava) desci e fui tomar meu café antes do trabalho. Uma ligação, atendida pelo pai mudou nossa manhã.
O coração cheio de amor e já cansado pela idade não aguentou a cirurgia e ela faleceu em uma temida manhã fria de inverno.
Aquela sexta-feira foi sem dúvida o dia mais triste da minha vida.
Não só por saber que não poderia mas abraçar e beijar a Bisa sempre que me desse vontade, mas por ver o meu Biso sofrer, e muito.
Quem ia pegar na minha mão pra saber se estavam quentinhas? Quem ia ocupar a cadeira de balanço do lado do Biso e se preocupar com a louça nos almoços de domingo?
Um vazio imenso tomou conta do meu peito.

Há algumas semanas sonhei com ela.
Na verdade foi mais uma lembrança do que um sonho.
Ela estava de pé, do lado do Biso, na casa da praia, com sua calça verde escura, um blusãozinho marrom e o sorriso de sempre me acenando, como quem diz: "Estou vendo que tu está feliz, continua assim que eu não te abandonei."
Acordei em meio a lágrimas e a saudade aumento um pouco mais.

sexta-feira, 11 de março de 2011

À espera de Sanfelice


Em 2004 eu estava no meu último ano do ensino médio, ainda não sabia o que faria direito na faculdade mas me lembro bem do crime que aconteceu no dia 12 de junho daquele ano. Um carro com o corpo de uma mulher carbonizada foi encontrado próximo ao Santuário das Mães, tudo indicava que o empresário e marido dela era o culpado.
Não dei muita bola para o crime e ele passou desapercebido sendo apenas mais uma fatalidade, entrei pra faculdade, comecei a cursar jornalismo e lá por 2006, quando eu estagiava na TVFeevale o julgamento do tal empresário, que agora eu podia ver o rosto de perto, Luiz Henrique Sanfelice, aconteceu no auditório do Prédio Lilás do Campus II. A partir daquele dia, quando acompanhei quase todo o julgamento, descobri que queria ser repórter policial.
Ele foi condenado, preso, foi pro regime semi aberto, e ninguém mais ouvi falar nele. Minha vida seguiu, como tinha de ser, e lá por 2008 todos se perguntavam, onde anda Sanfelice?
Depois de ficar alguns anos na Espanha ele foi encontrado e seria extraditado.
O que eu tenho a ver com isso? Tudo.
6 horas da manhã desta quarta-feira, de cinza que ironia, Sanfelice começa sua volta ao Brasil e eu me preparo para acompanhar cada detalhe em frente a Penintenciária Modulada de Montenegro.
Cheguei ás 7:30 no local, bem afastado na zona rural do município e ele só desembarcaria ás 9:30 no Salgado Filho.
Esperei.
Esperei quase 4 horas por Luiz Henrique Sanfelice, quem diria, pra quando ele chegar ouvir mais uma vez de sua boca que "não matou a Beatriz"!
Sinceramente, nessas horas sou a favor da prisão perpétua. Quem mata, ou manda matar, como acho que foi o caso dele – porque um empresário a sua altura não seria capaz de atirar e atear fogo contra a própria esposa, pagaria alguém fazer isso – deveria ficar preso até desafinhar na cadeia. Pois pior do que morrer é sofrer sozinho e calado.  
Sanfelice virou estrela. Rodiado por repórteres, câmeras e segurança máxima.
E a Bea, que segundo colegas do Grupo Sinos, era uma excelente profissional caiu no esquecimento.
Mundo injusto.
Justiça de mentira.