sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A arte de morrer




Todos nós temos um lado meio sanguinário que começa na infância quando tentamos morder o irmão, ou colega da escolinha, só pra ver as marcas e algumas gotinhas de sangue. As vezes esse desejo se manifesta também por um sentimento incontroláveis de brincar com facas e canivetes afiados.
Esse sentimento evolui, e quando se é jornalista, é preciso saber conviver com ele.
Já presenciei alguns acidentes de carro bem feios e em duas oportunidades vi pessoas sem vida durante o meu trabalho.
Um vez chegamos tão rápido em um acidente (eu e o cinegrafista) que vimos um motoqueiro caído, com a cabeça sangrando no meio de uma rua muito movimentada. Não sei se fiquei tão chocada com aquilo que mal dei bola pelo fato da pessoa estar morta. Eu precisava ver de perto, olhar nos olhos do cadáver para aí sim cair no senso comum de que ali estava um jovem trabalhador, talvez pai de família que acabara de entrar para o índice de mortes por acidentes de trânsito com motos.
Na segunda ocasião o buraco foi mais embaixo....era novembro de 2009 e um Fiat Uno foi avistado na beira da BR-116 pegando fogo. Era cerca de 6 horas da manhã quando os moradores acionaram bombeiros e policiais. Quando cheguei no local o relógio já marcava 8h e ainda sim os corpos de três mulheres cheiravam a queimado. Olhei de perto mais uma vez, os corpos mais pareciam os de um manequim, já que os cabelos e a pele eram inexistentes. Era difícil acreditar de que ali estavam três jovens que na noite anterior saíram para uma festa qualquer procurando diversão. Elas morrerem por culpa de um motorista bêbado. A motorista do Uno não bebeu, mas quem bateu dela no carro sim.

Naquele dia percebi que morrer é uma ação diária.

Pessoas morrem todos os dias em Novo Hamburgo, no Brasil e no mundo, e a probabilidade de se conhecer uma dessas pessoas não é tão pequena assim.
Percebi que ver acidentes e mortes com uma certa freqüência, ajuda a amenizar  as perdas diárias que sentimos, com coisas muito menos complicadas do que a morte.
E hoje, presenciei mais um acidente, por isso senti vontade de escrever este texto!

Ps.:Na foto a minha série preferida sobre morte - DEXTER!

Nenhum comentário:

Postar um comentário